23 de julho de 2017

Revelo

Eu me revelo
toda vez que abro a boca
toda vez que voo solta
toda vez que me permito.

Eu me revelo
toda vez que eu sorrio
toda vez que renuncio
toda vez que me recito.

Eu me revelo
toda vez que te encaro
toda vez que te abraço
toda vez que te avisto.

Eu me revelo
toda vez que alguém me afronta
toda vez que fico tonta
toda vez que me revisto.

Eu me revelo
em cada sentido meu

No tato
na visão
no olfato
na audição

mas principalmente
no paladar;
que me revela em cada coisa
que eu desejo provar.

Aline Nobre

3 de julho de 2017

O Apagão

A queda de energia é bem comum em cidades do interior, principalmente, nas menores. Lembro que, na minha infância, quando faltava luz, era uma alegria só, já tínhamos o protocolo a seguir nessas ocasiões: todas as crianças da rua logo corriam para um prédio da igreja que era o ponto de encontro, se fazia uma grande ciranda e era só alegria. Os adultos ficavam na calçada com suas velas, lanternas e faróis ligados, enquanto as crianças só precisavam da luz da lua – coincidentemente, sempre era noite de lua – para clareá-las enquanto a energia não voltava.
Ontem, aconteceu um episódio desses na minha cidade. Não haviam mais crianças brincando na minha rua, - uma boa reflexão que também pode ser feita - mas, felizmente, não se perdeu o encanto que apagões causam no interior.
Lembrei do verso de um poema que eu mesma escrevi no último apagão que tinha acontecido: “o apagão acendeu o céu”, só que, dessa vez, o apagão foi muito mais significativo pra mim, pois ele não somente acendeu o céu; ele proporcionou encontros e convivências sinceras entre pessoas.
O apagão acendeu o céu de tal forma, que parecia um show de astros no céu. Foi uma linda noite de lua crescente, havia um pequeno halo na lua que a tornou mais especial ainda. Pude identificar a constelação de escorpião facilmente, antes do céu ficar nublado. Vi uma estrela cadente e também dois aviões a sobrevoar. Que noite!
Mas como havia falado, acender o céu não foi a coisa mais extraordinária da noite, mas sim a convivência. A falta de TV e Internet acenderam a comunicação. Quem diria? A comunicação sendo feita pela ausência dos meios de comunicação.
Na hora que começou o apagão, eu não estava em casa, mas logo que cheguei, avistei todo mundo na calçada batendo papo, como nos velhos tempos. Depois jantamos todos à luz de velas, uma diversão!
Quando acabei de jantar, passei horas no quintal com minha sobrinha ouvindo música com o restante da bateria que sobrou do celular. Observamos o céu, falamos de astros, de sonhos, de vida. Fiquei impressionada o quão inteligente pode ser uma menina de 10 anos. Ganhei a noite!
Não senti falta da energia, da internet, da TV nem de nada. Foi um escape pra mim e acredito que pra muita gente também. Foi uma oportunidade de sair do quarto e entrar na vida.
Espero que não precisemos mais de apagões pra viver noites assim. Que vivamos apagões à luz de postes também.

Aline Nobre