25 de novembro de 2017

Exagerada

eu sou um exagero

quando abraço, me entrego
quando choro, me derramo
quando alegre, me explano
quando quero, me exponho
quando creio, me confio
quando alheia, me afasto
quando aflita, me revelo
quando tua, me desfaço
quando sofro, despedaço

quando amo, eu me doo
(do verbo doar e do verbo doer)

- Aline Nobre

15 de novembro de 2017

Morar no Interior – Parte 2

Morar no interior é ir deixar geleia de mocotó na casa da minha avó e quando sair de casa vê que minha mãe e minha irmã estão jogando baralho na mesa da cozinha. Morar no interior é no caminho da casa da minha avó vê que três das minhas vizinhas estão jogando dominó na calçada de uma delas e cumprimentar cada uma pelo nome. Morar no interior é chegar na casa da minha avó e avistar ela sentada numa cadeira de balanço observando o vai e vem das crianças da rua. Morar no interior é minha avó conhecer todas as crianças pelo nome e chamar uma delas que estava andando de bicicleta pra falar comigo e perguntar se ela lembra de mim. Morar no interior é essa criança parar pra conversar com a gente a cada volta que ela dá na bicicleta e contar das variadas histórias e aventuras que uma criança de 5 anos já pode ter vivido. Morar no interior é nessas pequenas conversas com o menino de 5 anos já saber seu desenho favorito, do corte de cabelo que ele fez essa semana, da bicicleta que ele ganhou ontem, das rasteiras que ele aprendeu a fazer com a bicicleta nova, do tema do seu aniversário de 5 anos, da escola que ele estuda, da escola que ele vai estudar ano que vem e mais um monte de coisa. Morar no interior é se interessar pelas histórias desse menino de 5 anos. Morar no interior é falar da viagem que minha irmã fez pra minha avó e quando ela pergunta quem é o motorista eu dizer que é o irmão da mulher do Antonio que é filho da mulher que mora em frente à praça. Morar no interior é minha avó saber imediatamente de quem eu estava falando. Morar no interior é falar com a minha avó das várias teorias sobre a explosão do banco e até a criança que brinca na calçada poder dar sua opinião sobre o ocorrido. Morar no interior é ouvir o que a criança tem pra falar. Morar no interior é na volta da casa da minha avó passar na casa da minha tia. Morar no interior é comer pão recheado com doce de leite caseiro na casa dessa tia. Morar no interior é se aproximar de casa e vê que agora tem mais gente jogando dominó na calçada da vizinha e ouvir as risadas ainda de longe. Morar no interior é ao chegar em casa escutar meus pais falando do roubo de um cabrito. Morar no interior é quando chegar em casa e ligar o wi-fi do celular ter uma mensagem de um amigo do ensino médio chamando pra ir na lanchonete. Morar no interior é chagar na lanchonete e ver outras quatro amigas do ensino médio se encontrando e ir abraça-las e falar dessa coincidência. Morar no interior é conhecer a dona da lanchonete pelo nome e falar com ela sobre a vida. Morar no interior é estar na lanchonete e passarem duas amigas de moto e pararem pra conversar com a gente. Morar no interior é voltar pra casa com o coração feliz por ter essa vida cheia de simplicidade e amor. Morar no interior é viver tudo isso que eu falei em uma noite e em menos três horas. Morar no interior é morar onde a vida acontece de verdade.


Aline Nobre (17/11/2017)

13 de novembro de 2017

Reza das Insignificâncias

eu rezo
no sorriso
no abraço
no encontro
na união
eu rezo

vejo Deus em ti
em mim
no ar
no beijo
no pássaro
e no avião

falo com Deus
de dia
de noite
faça chuva
ou faça sol
a cada vez que falo com minha irmã ou meu irmão

Deus está aqui
em tudo
agora
pra sempre
eu querendo
ou não

Deus nao precisa
da minha aprovação
pra ser presença
em mim

nem da tua
pra ser em ti

ele simplesmente é
e está
e faz
e sorri
e abraça
e beija
e encontra
e permanece

eu já nem preciso sentir pra saber
eu já nem preciso saber pra sentir.

amém.

(Aline Nobre)

9 de novembro de 2017

Eu me exponho demais

Durante uma conversa com uma pessoa que eu acabara de conhecer, utilizei a frase "eu me exponho demais" mais vezes do que eu gostaria. O que isso quer dizer? 
Percebi que aquela não foi a primeira vez que eu utilizei essa expressão, e notei que tenho a usado com bastante frequência nos últimos tempos. E me analisando bem, essa frase tem um teor bastante positivo pra mim. Acho que tenho um desejo desesperado de que as pessoas não se enganem sobre quem sou. 
E você pode se perguntar: "como assim?", e eu te explico: 
Antes de criar qualquer laço com alguém, eu quero que a pessoa tenha certeza de onde ela está se metendo. Eu sou uma louca, gente, é sério. A ideia de alguém gostar de mim por algo que eu não sou me dá ânsia, por isso prefiro não bancar a misteriosa. Não é algo simplesmente involuntário. Foi uma decisão (talvez involuntária) que tomei em algum momento da vida e ela faz muito sentido pra mim.
As vezes penso: mas será que todo mundo merece mesmo me conhecer assim? E vejo esses resquícios de egoísmo que pairam sobre mim e na mesma hora me rebato: eu sou mesmo é domínio público, não posso me privatizar. Todas as minhas personas devem me levar à mim. Mentir sobre si é uma autotraição.
A maior vaidade que existe é a mentira. Acho que todas as vaidades surgem dela. Qual o motivo de você se esconder, se sonegar? É vaidade. Quem se esconde, provavelmente não gosta do que se é. Não de verdade. Eu gosto de quem sou, talvez seja por isso que eu me exponho tanto.
Eu me exponho com minha risada exagerada, com minha atenção exagerada, com meu abraço exagerado, com meu entusiasmo exagerado, com meus textos exagerados, com a minha indignação exagerada, com meu eu exagerado. Eu sou um exagero, mas não dá pra fugir da sina inevitável que é ser eu, então aceito a condição. E sigo, junto com aquelas(es) que valem à pena.
Desculpa o textão, eu sei, mas é que eu me exponho demais.

Por Aline Nobre