8 de fevereiro de 2018

MORTE E VIDA SEVERINA

sertão é vida
mas nem sempre

sertão é aconchego
sossego
apego
mas nem sempre

sertão é ninho
cantinho
carinho
mas nem sempre

sertão é segurança
vizinhança
confiança
mas nem sempre

sertão é tranquilidade
liberdade
diversidade
mas nem sempre

sertão é vida
mas nem sempre

sertão não é sossego
aconchego
e nem apego
pra quem resolve pensar fora da caixa e enfrentar algumas mazelas que nele ainda existem

sertão não é ninho
cantinho
e nem carinho
pra quem resolve ser o que se é, quando não se é aquilo que os outros esperam

sertão não é segurança
vizinhança
e nem confiança
pra quem sente medo de se mostrar e levar dois tiros de cada olhar que passar pela sua rua

sertão não é tranquilidade
liberdade
e nem diversidade
quando o ser diverso vai contra os costumes patriarcais que ainda pairam pelo chão seco

sertão nem sempre é vida
mas deveria.

Aline Nobre, sobre os sinais de morte que matam ainda em vida.

5 de fevereiro de 2018

[NÃO SE PODE ESQUECER AS VIDAS CEIFADAS]

choveu no sertão
tudo brotou
tudo floriu

mas em meio a todo verde
havia um cinza
um mandacaru
que não resistiu

não por ser menos forte
menos resiliente
ou menos capaz

talvez a seca pra ele
no seu pedaço de chão
tenha sido mais intensa
mais voraz


é bonito de se viver
um sertão com tanta vida

mas eu não consigo esquecer
aquele mandacaru seco
aquele cinza.

- Aline Nobre