2 de agosto de 2017

“Nos falamos, mas foi meio em silêncio”

Sabem aqueles relacionamentos complicados que perpassam vários anos sem se definirem do que se tratam? Pois é, conheço vários desses. Normalmente se perderam na linha tênue entre romance e amizade, e é difícil sair de cima dessa linha, para qualquer que seja o lado.

Estava conversando com uma amiga que vive um relacionamento assim e no meio da conversa sobre essa relação, ela disse a seguinte frase: “Nos falamos, mas foi meio em silêncio”. Que frase forte! Se falaram meio em silêncio. Quantas vezes já passamos por isso?

Às vezes silenciamos para evitar desgaste, porque em algumas relações a gente “se desentende no instante em que fala”, como Belchior fala em uma canção. A gente fala meio em silêncio com nossa família o tempo todo, é na hora do almoço, no aniversário dos avós ou na ceia de natal. Esses silêncios que pronunciamos a todo momento, apesar de evitarem discussões, na maioria das vezes são prejudiciais, porque também evitam a convivência sincera.

Outras vezes silenciamos porque não existem palavras que possam suprir a intensidade do que se viveu. São silêncios escassos de palavras, mas repletos de sentimentos. Silêncios que acompanham olhares, toques, confiança e coração acelerado. Esses, sim, valem totalmente à pena, porque palavras provavelmente não acrescentariam nada.

Ainda existem os silêncios que significam presença. Esse silêncio é dito na maioria das vezes para amigos e amigas que só precisam de presença sincera, sem necessidade de palavras. Esses silêncios costumam ser o ápice de relações de amizade. São declarações de amor ditas no abraço.

Já vivi diversos outros silêncios também; silêncios de finais, silêncios de começos, silêncios de desconforto e silêncios de prazer. Todos esses silêncios vividos não podem ser registrados em cadernos, álbuns, melodias ou gestos, podem somente ser lembrados como pequenos instantes em que a vida esqueceu o roteiro. E a gente? A gente ficou sem fala.

Um silêncio vale mais que mil palavras.


Por Aline Nobre

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