Quase
todo mundo que conheço já fez dieta alguma vez na vida, seja por motivos de
saúde, para perder uns quilos ou até mesmo para ganhar uns quilos, mas eu nunca
fiz, e acho que isso diz muito sobre mim.
Eu
sempre estive “acima” do peso segundo o que a sociedade diz ser o peso ideal, e
seria mentira eu dizer que isso nunca me incomodou, porque incomodou,
principalmente na adolescência que é quando as pressões para se enquadrar nos
padrões sociais são mais intensas e cruéis, mas nem isso fez com que eu abrisse
mão de ser quem eu sou para ser quem os outros esperam que eu seja.
Houve
uma época em que eu não gostava nada do meu corpo, justamente por ele ser de
diversas maneiras fora dos padrões; não tinha a forma ideal, o tamanho ideal, a
cor ideal, a quantidade de pelos ideais, a textura ideal, nada era ideal
segundo os padrões associados a uma pessoa do sexo feminino e adolescente, e
foi dolorido aceitar que esse corpo era meu único lar possível.
Ser
gorda, negra e peluda foi por muito tempo dolorido, mas hoje, uma pouco mais
livre das influencias sociais e um pouco mais empoderada do meu eu, ser gorda,
negra e peluda é orgulho e resistência. Tenho orgulho do meu lar.
Acredito
que essa força para me manter resistente foi algo interior e íntimo, mas sei
que só encontrei sentido nela quando conheci outras mulheres que também pensam
assim, mulheres fortes, lindas e livres que em sua maioria foi o movimento
feminista me apresentou.
Com
essas mulheres eu aprendi que ser chamada de gorda não é xingamento e nem
sempre é um comentário pejorativo, e eu sou gorda. Com essas mulheres eu
aprendi que ser peluda não é um problema a ser solucionado, que ter pelos no
rosto, nos braços e sobrancelha grossa não me tornam menos mulher e que esses pelos
fazem parte de mim e não são nada feios, e eu sou peluda. Com essas mulheres eu
aprendi que a cor da minha pele é bela, não sou morena, nem mulata e nem da cor
do pecado, eu sou negra e minha pele é símbolo de luta, resistência e
subversão.
E
é por isso que eu preciso do feminismo. Me entendem? Eu preciso do feminismo
para ser eu de maneira integral. Eu preciso do feminismo porque eu não quero
precisar cortar partes minhas para me sentir aceita, porque eu já me aceito. Eu
preciso do feminismo porque preciso me sustentar em outras mulheres para me
sentir mais forte.
Eu
preciso do feminismo porque eu desejo que todas as mulheres negras tenham
orgulho de a serem. Eu preciso do feminismo porque eu desejo que todas as
mulheres peludas tenham orgulho de a serem. Eu preciso do feminismo porque eu
desejo que todas as mulheres gordas tenham orgulho de a serem.
Eu
preciso do feminismo porque eu nunca fiz dieta.
Aline Nobre
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