24 de dezembro de 2017

La Niña

chegaste como uma chuva de pré-estação
incerta
imprevisível
inconstante

e eu
feito planta da Caatinga que sou
brotei
floresci
logo nos teus primeiros sinais.

- Aline Nobre

21 de dezembro de 2017

Te vejo

glândula pineal
é o órgão dos sonhos
das visões
da imaginação

em algumas culturas
é conhecida como terceiro olho
ou chacra frontal,
ou Ajña
ou Olho de Hórus

mas independente do nome
eu só queria dizer
que o meu terceiro olho
(todos os dias)
só tem visto você.

- Aline Nobre

19 de dezembro de 2017

Dois anos da 3ª Conferência Nacional de Juventude: O que conquistamos?



No dia 19 de dezembro de 2015 se encerrava a 3ª Conferência Nacional de Juventude em Brasília-DF que tinha como tema "As várias formas de mudar o Brasil". A 3ConfJuv teve um processo bonito e participativo de construção. As discussões das propostas ocorreram em todas as etapas da conferência: municipais, estaduais, livres e digital. Foram centenas de jovens de todo o Brasil sonhando e construindo Políticas Públicas para Juventude que refletem suas realidades. Foi bonito de se viver!
A Pastoral da Juventude incentivou os jovens dos seus grupos de base a participarem de todas as etapas, e assim fizemos. Fomos a maior delegação desta conferência e nela buscamos defender nossas bandeiras de promoção da vida da juventude. A Esperança era a palavra da vez.
Jovens de todo o Brasil tiveram a oportunidade de falar quais as políticas públicas a juventude do Brasil quer e precisa. Dos dias 16 a 19 de dezembro de 2015 a juventude do Brasil gritou numa só voz “Não vai ter golpe”, gritou pelo fim da polícia militar, gritou pela diversidade, gritou pela justiça, mas infelizmente os nossos gritos não foram ouvidos. Hoje a Esperança que se via nos olhares das juventudes já não brilha tanto quanto há dois anos atrás.
O Plano Nacional da Juventude deveria ser elaborado a partir do conjunto de propostas que a juventude do Brasil apontou durante aqueles dias. 
As discussões foram organizadas em 11 eixos:  Participação, Educação, Trabalho, Diversidade, Saúde, Cultura, Comunicação, Esporte, Território e mobilidade, Meio ambiente e Segurança. E tínhamos diversas propostas para cada um desses eixos, propostas estas que refletiam a nossa realidade enquanto juventude brasileira.

Além das diversas propostas aprovadas, a juventude do Brasil apontou três prioridades gerais:

1ª Não à redução da maioridade penal, pelo cumprimento efetivo das medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.

2ª Ampliar e acelerar o processo de Reforma Agrária e regularização fundiária, bem como reconhecimento e demarcação de terras pertencentes a povos e comunidades tradicionais, em especial das terras indígenas e quilombolas, acabando com as práticas forçadas de remoção de seus territórios. Assim, viabilizando a regularização da documentação de assentamentos já existentes, permitindo que os jovens tenham condições de permanecer ou regressar as suas terras originais, e serem assim contemplados pelos programas, projetos e ações para a juventude rural.

3ª Garantir a implantação do Sistema Nacional de Juventude composto por órgãos gestores, conselhos e fundos de públicas de juventude, nas três esferas administrativas. O fundo nacional de juventude funcionará com repasses fundo a fundo definido percentualmente entres os três entes federados para direcionar as políticas e ações para a juventude em âmbito nacional, estadual e municipal.

Dois anos após o início desta conferência eu convido cada uma e cada um a reler as propostas eleitas, a analisar as urgências de cada uma e a pensar: A juventude tem voz no Brasil?

Nós dissemos NÃO à redução da maioridade penal. Fomos ouvidos?
Nós pedimos Reforma Agrária e o Governo Temer tenta extinguir Reservas Nacionais e facilitar a entrada de mineradoras na Amazônia.
Nós pedimos investimentos na juventude e o Governo congela as verbas para saúde e educação por 20 anos.
Nós pedimos promoção da saúde integral da mulher e a bancada evangélica da Câmara aprova PEC que, proíbe o aborto até em casos de estupro.
Nós pedimos o Plano Nacional de Enfrentamento aos Homicídios que combata o extermínio da Juventude e em 2017 as mortes associadas às intervenções policiais cresceram 60%.
Nós pedimos a Reformulação do Ensino Básico e Médio democratizando e humanizando as escolas, incluindo debates como: gênero, igualdade, justiça social e liberdade, e ao invés disso é aprovado uma reforma do Ensino Médio que reduz ainda mais a possibilidade de avanço dos jovens de escola pública a “Escola sem Partido” avança, que na verdade é mordaça contra realização plena do educando.
Nós pedimos transporte público e gratuito de qualidade e ao invés disso as tarifas de transporte público só aumentam e a qualidade só diminui.
Nós pedimos a aprovação de uma lei que defina os crimes de ódio e de intolerância e as formas de coibi-los e ao invés disso temos um pré-candidato à presidência que grita aos quatro cantos do Brasil seus discursos de ódio e intolerância e ainda tem aprovação de uma parcela da população.
Nós dissemos NÃO ao uso de agrotóxicos e a Rede Globo tenta colocar na cabeça das pessoas que o “agro é pop”.
Nós pedimos a democratização da mídia e ela continua insistindo em manipular a população.
Nós pedimos acesso à cultura para a juventude periférica e chega no Senado uma proposta de criminalização do funk.
Nós pedimos emprego de qualidade e a proibição da terceirização em todas as suas formas e é aprovada a Reforma Trabalhista que retira direitos dos(as) trabalhadores(as).


Segue abaixo as prioridades eleitas para cada eixo temático:

Eixo Saúde: Promover a saúde integral da mulher jovem, sem seguir a lógica da medicalização e intervenção sobre o corpo. O sistema de saúde deve lidar com a prevenção da saúde das jovens, incluindo atendimento relacionado a abortos, que hoje é a quinta causa de mortes no país, o Estado deve tratar do caso como saúde pública garantindo-lhes atendimento ginecológico preparado.

Eixo Segurança: Criar um Plano Nacional de Enfrentamento aos Homicídios que combata o extermínio da Juventude Negra, dos Jovens de Povos e Comunidades Tradicionais, que vise a desmilitarização e a federalização das policias, fim dos autos de resistência, acesso à justiça, e formação específica em Direitos Humanos e Cidadanias voltados ao atendimento aos Povos e Comunidades Tradicionais, que visem eliminar ações repressoras por mecanismos de abordagem humanizados que respeitem as especificidades de identidade de gênero, raça/etnia, tradições e orientação sexual. Fortalecer e fomentar e ampliar o “Plano Juventude Viva” com um recorte específico para: Jovens negros, jovens PCTs, jovens LGBTs, respeitando os recortes de gênero e garantindo a participação direta e indireta do plano destas juventudes como forma de estimular a valorização destas identidades combatendo preconceitos e opressões.

Eixo Educação: Reformulação do Ensino Básico e Médio desde a matriz curricular à formação dos professores, democratizando e humanizando as escolas, incluindo debates como: gênero, igualdade,
justiça social e liberdade; ampliando a carga horária de disciplinas tais como: filosofia, sociologia e história, possibilitando, assim, o senso crítico e político dos estudantes.
Eixo Território e Mobilidade: Criar e implementar o Fundo Nacional e Inter federativo de mobilidade para todos os jovens, para subsidiar a tarifa zero, garantindo um transporte publico, gratuito, de qualidade, e acessibilidade em toda a frota, fazendo se cumprir o artigo 31, parágrafo único do estatuto da juventude.

Eixo Participação: Garantir a implantação do Sistema Nacional de Juventude composto por órgãos gestores, conselhos e fundos de políticas públicas de juventude, nas três esferas administrativas. O fundo nacional de juventude funcionará com repasses fundo a fundo definido percentualmente entres os três entes federados para direcionar as políticas e ações para a juventude em âmbito nacional, estadual e municipal.

Eixo Diversidade: Aprovar lei que define os crimes de ódio e de intolerância e as formas de coibi-los, nos parâmetros de outras leis tal como a de crime de racismo, para proteger todas as pessoas, inclusive jovens, independentes de classe e origem social, condição de migrante, refugiado ou deslocado interno, orientação sexual, identidade e expressão de gênero, idade, religião, situação de rua e deficiência.

Eixo Meio Ambiente: Combater o uso e abuso dos agrotóxicos, fortalecendo a sustentabilidade através da agroecologia, por meio de programas sociais para a agricultura familiar e a Juventude Rural, com ênfase na compensação econômica em contrapartida à preservação ambiental, assistência técnica, acesso ao crédito e Reforma Agraria.

Eixo Comunicação: Democratização da mídia modificando a legislação atual para que as rádios comunitárias tenham alcance igualitário das rádios comerciais. Regulamentar e democratizar a mídia do país, revendo os modelos de financiamento e concessão pública de TV, a partir da atualização e efetivação do marco regulatório da comunicação, respeitando a constituição de 1988 no que tange ao artigo 220, revogando o caráter consultivo do Conselho Nacional de Comunicação, alterando a sua composição permitindo a participação paritária da sociedade civil e governo e replicando este modelo de conselho no âmbito estadual e municipal.

Eixo Cultura: Garantir a construção, manutenção, ampliação e requalificação dos equipamentos culturais, promovendo a acessibilidade, sustentabilidade e participação social nas periferias, distritos, zonas rurais, comunidades tradicionais, povoados e assentamentos, descentralizando as ações de juventude e oferecendo espaços adequados, bibliotecas, sob consultoria especializada, para as diversas linguagens culturais: teatro, audiovisual, hip hop, dança, artes, artesanato, música, poesia dentre outras. Viabilizando a criação e fomento de grupos culturais tais como artesãos, grupos de dança, teatro e as demais expressões artísticas e culturais, priorizando os artistas municipais e a promoção de atividades itinerantes descentralizadas, incentivando programas culturais em escolas e associação de moradores, bem como a criação de editais sob a forma de prêmios (com prestações de contas facilitada E ESPECÍFICA PARA PCTs).

Eixo Trabalho: Garantir o acesso ao 1º emprego com qualidade; Reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais; Proibir a terceirização em todas as suas formas.

Eixo Esporte: Criação do Fundo Nacional de incentivo ao esporte, com base orçamentaria de 2% do PIB, fortalecendo conselhos e secretarias de esporte, para ampliar os equipamentos esportivos e desenvolver programas de incentivo ao esporte, como iniciativas regionais e o Bolsa Atleta.


Sim, existem várias formas de mudar o Brasil; em 2015 a juventude brasileira apontou várias delas, mas infelizmente não nos deram ouvidos.
E o Brasil segue mudando, mas ao invés de promover a vida da juventude, o Brasil segue avançando no caminho da criminalização e da morte dela.

O caminho da vida só pode ser traçado quando sabemos de qual lado estamos.
De qual lado você está?
Do lado da juventude ou do lado dos que tentam nos calar?


Por Aline Nobre.

17 de dezembro de 2017

Pós-cirurgia

(À Hannah)

a mulher ainda está inteira
mesmo que sem uma parte
a mulher está viva
inteira
total

inteiramente mulher
apesar da dor
(a dor é feminina)

o corpo se adaptará
ela também
no seu tempo

é preciso bem mais que uma ablação
pra matar a mulher que vive dentro.

- Aline Nobre

11 de dezembro de 2017

Ecossistema

tudo é cíclico
holístico
ligado
o ypê floresce
no seu tempo determinado
independente se na caatinga
na floresta ou no cerrado
no tempo certo
florescerá
e tem você...
que na hora exata
bem na hora exata
a vida cumpriu seu papel
e me veio te apresentar.
- Aline Nobre

8 de dezembro de 2017

Morada

olha
toca
sente
ama
sobretudo as flores

e não deixa nada passar

respira
se conecta
sem pressa
sem nada
pisa no chão úmido
que contém a seiva da vida
que contém os mistérios do universo
que habita em cada ser

sente com respeito
a mística da criação
e veja a criação
fazendo morada em ti
a cada vez que tu
fazes morada nela.

- Aline Nobre, no mato.

25 de novembro de 2017

Exagerada

eu sou um exagero

quando abraço, me entrego
quando choro, me derramo
quando alegre, me explano
quando quero, me exponho
quando creio, me confio
quando alheia, me afasto
quando aflita, me revelo
quando tua, me desfaço
quando sofro, despedaço

quando amo, eu me doo
(do verbo doar e do verbo doer)

- Aline Nobre

15 de novembro de 2017

Morar no Interior – Parte 2

Morar no interior é ir deixar geleia de mocotó na casa da minha avó e quando sair de casa vê que minha mãe e minha irmã estão jogando baralho na mesa da cozinha. Morar no interior é no caminho da casa da minha avó vê que três das minhas vizinhas estão jogando dominó na calçada de uma delas e cumprimentar cada uma pelo nome. Morar no interior é chegar na casa da minha avó e avistar ela sentada numa cadeira de balanço observando o vai e vem das crianças da rua. Morar no interior é minha avó conhecer todas as crianças pelo nome e chamar uma delas que estava andando de bicicleta pra falar comigo e perguntar se ela lembra de mim. Morar no interior é essa criança parar pra conversar com a gente a cada volta que ela dá na bicicleta e contar das variadas histórias e aventuras que uma criança de 5 anos já pode ter vivido. Morar no interior é nessas pequenas conversas com o menino de 5 anos já saber seu desenho favorito, do corte de cabelo que ele fez essa semana, da bicicleta que ele ganhou ontem, das rasteiras que ele aprendeu a fazer com a bicicleta nova, do tema do seu aniversário de 5 anos, da escola que ele estuda, da escola que ele vai estudar ano que vem e mais um monte de coisa. Morar no interior é se interessar pelas histórias desse menino de 5 anos. Morar no interior é falar da viagem que minha irmã fez pra minha avó e quando ela pergunta quem é o motorista eu dizer que é o irmão da mulher do Antonio que é filho da mulher que mora em frente à praça. Morar no interior é minha avó saber imediatamente de quem eu estava falando. Morar no interior é falar com a minha avó das várias teorias sobre a explosão do banco e até a criança que brinca na calçada poder dar sua opinião sobre o ocorrido. Morar no interior é ouvir o que a criança tem pra falar. Morar no interior é na volta da casa da minha avó passar na casa da minha tia. Morar no interior é comer pão recheado com doce de leite caseiro na casa dessa tia. Morar no interior é se aproximar de casa e vê que agora tem mais gente jogando dominó na calçada da vizinha e ouvir as risadas ainda de longe. Morar no interior é ao chegar em casa escutar meus pais falando do roubo de um cabrito. Morar no interior é quando chegar em casa e ligar o wi-fi do celular ter uma mensagem de um amigo do ensino médio chamando pra ir na lanchonete. Morar no interior é chagar na lanchonete e ver outras quatro amigas do ensino médio se encontrando e ir abraça-las e falar dessa coincidência. Morar no interior é conhecer a dona da lanchonete pelo nome e falar com ela sobre a vida. Morar no interior é estar na lanchonete e passarem duas amigas de moto e pararem pra conversar com a gente. Morar no interior é voltar pra casa com o coração feliz por ter essa vida cheia de simplicidade e amor. Morar no interior é viver tudo isso que eu falei em uma noite e em menos três horas. Morar no interior é morar onde a vida acontece de verdade.


Aline Nobre (17/11/2017)

13 de novembro de 2017

Reza das Insignificâncias

eu rezo
no sorriso
no abraço
no encontro
na união
eu rezo

vejo Deus em ti
em mim
no ar
no beijo
no pássaro
e no avião

falo com Deus
de dia
de noite
faça chuva
ou faça sol
a cada vez que falo com minha irmã ou meu irmão

Deus está aqui
em tudo
agora
pra sempre
eu querendo
ou não

Deus nao precisa
da minha aprovação
pra ser presença
em mim

nem da tua
pra ser em ti

ele simplesmente é
e está
e faz
e sorri
e abraça
e beija
e encontra
e permanece

eu já nem preciso sentir pra saber
eu já nem preciso saber pra sentir.

amém.

(Aline Nobre)

9 de novembro de 2017

Eu me exponho demais

Durante uma conversa com uma pessoa que eu acabara de conhecer, utilizei a frase "eu me exponho demais" mais vezes do que eu gostaria. O que isso quer dizer? 
Percebi que aquela não foi a primeira vez que eu utilizei essa expressão, e notei que tenho a usado com bastante frequência nos últimos tempos. E me analisando bem, essa frase tem um teor bastante positivo pra mim. Acho que tenho um desejo desesperado de que as pessoas não se enganem sobre quem sou. 
E você pode se perguntar: "como assim?", e eu te explico: 
Antes de criar qualquer laço com alguém, eu quero que a pessoa tenha certeza de onde ela está se metendo. Eu sou uma louca, gente, é sério. A ideia de alguém gostar de mim por algo que eu não sou me dá ânsia, por isso prefiro não bancar a misteriosa. Não é algo simplesmente involuntário. Foi uma decisão (talvez involuntária) que tomei em algum momento da vida e ela faz muito sentido pra mim.
As vezes penso: mas será que todo mundo merece mesmo me conhecer assim? E vejo esses resquícios de egoísmo que pairam sobre mim e na mesma hora me rebato: eu sou mesmo é domínio público, não posso me privatizar. Todas as minhas personas devem me levar à mim. Mentir sobre si é uma autotraição.
A maior vaidade que existe é a mentira. Acho que todas as vaidades surgem dela. Qual o motivo de você se esconder, se sonegar? É vaidade. Quem se esconde, provavelmente não gosta do que se é. Não de verdade. Eu gosto de quem sou, talvez seja por isso que eu me exponho tanto.
Eu me exponho com minha risada exagerada, com minha atenção exagerada, com meu abraço exagerado, com meu entusiasmo exagerado, com meus textos exagerados, com a minha indignação exagerada, com meu eu exagerado. Eu sou um exagero, mas não dá pra fugir da sina inevitável que é ser eu, então aceito a condição. E sigo, junto com aquelas(es) que valem à pena.
Desculpa o textão, eu sei, mas é que eu me exponho demais.

Por Aline Nobre

25 de outubro de 2017

Exaustão

Hoje eu estava bem exausta da vida e de tudo que me tira a paciência. Um colega do trabalho percebeu e me fez uma dessas perguntas difíceis que não se dá pra responder sem passar por uma análise da vida que vivemos: “alguma vez você já tirou um tempo só pra si, sem ter que se preocupar com nada?” e essa pergunta está ecoando em mim até agora e infelizmente a resposta é: não.

É fato que pouca gente se dá “ao luxo” de ter um tempo só para si, mas é fato também que todo mundo precisa desse tempo.

Nós vivemos em mundo imediatista, ligeiro e fugaz, que não espera por quem não pretende alcançar a sua velocidade. Não é à toa que a ansiedade seja uma patologia cada vez mais comum, esse modelo de sociedade adoece e mata.

A sensação de globalização, de proximidade, de ter o mundo nas mãos e de ter acesso a qualquer coisa e a qualquer hora, fez de nós pessoas impacientes, impessoais e impotentes. No passo que temos acesso “a tudo”, quando algo sai do nosso controle ou não gera respostas tão imediatas, começamos a nos sentir fracos e incapazes de nos mover.

O sentido do processo e do caminho foi-se perdendo. Esperar já não é uma opção possível para a maioria. Por que tirar um tempo para si, sendo que que os outros ganharão vantagem durante esse tempo? Por que aguardar os sentimentos ficarem claros, se você pode partir para outra? Por que esperar ter certeza da escolha, se o relógio da vida está acelerado e você está ficando para trás?

Você entende que essa lógica é doentia?

Eu quero ter tempo para andar de pés descalços na areia e sentir a energia solar, eu quero ter tempo para entender quem eu sou e o que eu quero fazer de fato na/da vida, eu quero ter tempo para amar e fazer coisas que amo sem a sensação de culpa e de está desperdiçando minha vida. Eu quero poder escrever sobre o que sinto sem me culpar porque amanhã tenho uma prova e ainda não estudei o suficiente e eu não consigo me concentrar porque a vida é mais pesada do que parece.

Eu não quero a resposta imediatista do whatsapp, não quero a instantaneidade das relações virtuais, não quero ganhar no jogo do desinteresse e nem quero a efemeridade de amores vertiginosos.


É pedir muito querer uma vida com tempo para viver?

- Aline Nobre

10 de outubro de 2017

Resenha: A História Secreta da Obsolescência Planejada



O Documentário “A História Secreta da Obsolescência Planejada”, dirigido por Cosima Dannoritzer se inicia apresentando um jovem chamado Marcos enfrentando um problema muito comum: sua impressora com defeito. O documentário então é desenvolvido não somente na busca de uma solução para este problema, mas também na busca por entender a raiz do mesmo. É então que somos apresentadas(os) a Obsolescência Planejada como causadora desse e de muitos outros problemas tecnológicos atuais.

O problema da impressora com defeito é um problema típico da maioria dos produtos tecnológicos que encontramos hoje em dia; após um certo período de uso eles simplesmente param de funcionar e o conserto normalmente custa tão caro que é mais vantajoso adquirir um produto novo e descartar o defeituoso. Esta é a lógica da obsolescência planejada: o descarte do “velho” para aquisição de um produto novo que promete ter mais eficiência.

A Obsolescência Planejada começou “oficialmente” no século XX, quando os fabricantes começaram a diminuir a vida útil dos produtos para aumentar as vendar e movimentar a economia.

Para entender o desenrolar do processo de “adoção” desse sistema de descarte no mundo, a diretora do documentário se utiliza do exemplo da lâmpada, que é apresentada como o ponto de partida da Obsolescência Programada no mundo. O Documentário faz um resgate histórico das primeiras lâmpadas produzidas no fim do século XIX, que duravam cerca de 1500 horas acesas e do processo de desenvolvimento das mesmas para que pudessem ter uma maior duração. Em pouco tempo já se eram possíveis lâmpadas com duração de 2500 horas, o que do ponto de vista do avanço tecnológico era uma grande vitória, mas do ponto de vista econômico era um prejuízo, pois as pessoas passariam a comprar cada vez menos lâmpadas e com uma frequência menor. Então no início do século XX criou-se uma organização não-oficial chamada PHOEBUS que limitava a vida útil das lâmpadas para 1000 horas, e as empresas que não cumprissem esta regra, poderiam sofrer “boicotes” pela desobediência. Começou então uma troca de valores por parte dos engenheiros e cientistas, que ao invés de buscarem produtos que durassem mais e gastassem menos matéria prima, agora tinha como principal valor fazer com que os produtos pudessem ter uma curta vida útil para que a economia continuasse a se movimentar. E esta lógica não se aplicava mais somente as lâmpadas, mas também aos tecidos, eletrodomésticos, automóveis, entre outros produtos.

Ainda falando sobre lâmpadas, Adolphe Chaillet inventou um filamento para fazer com que as lâmpadas durassem um período ainda maior de tempo, porém a produção não foi feita em escala industrial devido as regras sobre o limite de duração das mesmas, porém uma dessas lâmpadas que utilizou esse filamento, ainda hoje, mais de 100 anos depois, continua a funcionar, mas infelizmente o segredo dessa tecnologia morreu junto com o Adolphe, e nunca mais foi desenvolvida, ou se foi desenvolvida, não foi divulgada.

É de se entender a lógica usada naquela época para o “bem” da economia, porém hoje em dia com os recursos naturais cada vez mais escassos, continuar seguindo esse modelo de produção do descarte é estupidez, mas infelizmente podemos perceber que esse modelo de produção é a cada dia mais fortalecido.

Além do uso irresponsável dos recursos naturais, este modelo de produção é extremamente cruel com as pessoas que estão em uma situação social “baixa”. O grande volume de lixo eletrônico gerado é enviado para países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, tornando-os grandes “lixões”, e acabando com a paisagem e recursos naturais dos mesmos. Resumidamente as grandes potencias exploram os recursos naturais dos países mais pobres, usufruem dos bens e depois descartam o que não serve mais de volta nesses lugares.

Ao longo do tempo outras formas de Obsolescência Planejada foram sendo desenvolvidas, como por exemplo a aparência das coisas. Mudava constantemente o design dos objetos para que pouco tempo após o uso, os mesmos fossem considerados ultrapassados e as pessoas desejassem adquirir algo mais moderno, mesmo que as funcionalidades não fossem mais avançadas. Daí surge também o conceito de moda, onde a sociedade dita o que é aceitável socialmente dentro dos padrões que ela impõe.

Atualmente muito se fala de “Ciclo de Vida do Produto”, que é também uma forma da Obsolescência Planejada. As pessoas estudam todo o processo de produção dos materiais e geral, já considerando o seu descarte. Ou seja, a análise do ciclo de vida de um produto, é o estudo da obsolescência planejada sobre ele. A ideia de que as coisas são feitas pra acabar já está tão comum, que todas as pessoas tratam com normalidade e não conseguem enxergar que outra realidade é possível, uma realidade que não vise somente o lucro, mas que olhe para o meio ambiente e para as pessoas.

A Economia trabalha na perspectiva de um crescimento ilimitado, sendo que o planeta e os recursos são limitados. A ganancia humana faz com que vivamos de forma insustentável e que não façamos nada para mudar isto.

A arte por diversas vezes tem nos alertado para o perigo desse modelo de vida. O documentário mostra o exemplo de alguns filmes que retrataram de forma bastante real a Obsolescência Planejada, logo na época que ela começou a se popularizar. Hoje também podemos ver muitos exemplos de filmes e séries de ficção/distopia que também nos alertam para a realidade e para os possíveis efeitos futuros desta forma de produção irresponsável, como é o caso de "Interestelar", "The 100", "Black Mirror", "3%", "Wall-E", entre outras. 

O documentário também nos mostra sinais de esperança para a superação dessa cultura de consumo exagerado. Várias pessoas, coletivos, ONG’s tem trabalhado e lutado para combater a Obsolescência Planejada através da conscientização da população.

Ao final do documentário, Marcos encontra na internet uma dessas pessoas que lutam contra a Obsolescência Planejada e que o ajuda a resolver o problema da sua impressora; trata-se de um chip contido na impressora que depois de um certo número de impressões faz com que a impressora pare de funcionar – isto acontece com diversos produtos eletrônicos – e o problema é resolvido a partir de um simples aplicativo de computador que “zera” o chip da impressora, fazendo com que a mesma volte a funcionar perfeitamente sem precisar de nenhum ajuste.

Apesar do grande problema apresentado pelo documentário, este desfecho nos traz esperança de que podemos lutar e resistir contra esse sistema de descarte contínuo e gerar uma nova cultura de consumo consciente.

Podemos perceber vários aspectos dos conflitos Homem-Natureza presentes neste documentário: As diversas vezes que o interesse coletivo é deixado de lado por causa de interesses pessoais, a problemática dos recursos finitos X desejos infinitos, as questões éticas que frequentemente são deixadas de lado, a problemática da sociedade do consumo, o uso dos recursos naturais, as consequências do modelo moderno de vida, a lógica do capital, a globalização e os diversos problemas ambientais que enfrentamos. O documentário consegue fazer uma síntese das relações de consumo e do modelo de vida atual, nos alertando para as consequências futuras que este modelo pode causar.


“O mundo é grande o suficiente para atender
 às necessidades de todos, mas sempre demasiado 
pequeno, para a ganância de alguns."
(Mahatma Gandhi)



Você pode encontrar o documentário clicando AQUI


Por Aline Nobre


27 de setembro de 2017

Gente de bem?

"Travesti Dandara foi apedrejada e espancada a tiros no Ceará"

"Expectativa de vida de uma mulher trans não ultrapassa os 35 anos na América Latina"

"Em 2016, a Rede Trans Brasil apurou que 64 transexuais e travestis tentaram se matar porque não conseguiram ter respeito social"

E essa “gente de bem” comemora e fala: “eles tem que ter vergonha mesmo”, “eles são umas aberrações”
Mas ei, pessoa de bem, aberração é seu preconceito!

"Uma morte LGBT acontece a cada 28 horas motivada por homofobia"

E essa “gente de bem” fala: “tudo bem ser viado, mas que seja longe de mim”
Mas ei, pessoa de bem, você podia cuspir seu ódio longe de todo mundo também

"Dados mostram que 59% das vítimas de homofobia conheciam o agressor e que o local mais frequente de agressão é em casa"

E essa “gente de bem” fala: “Eu não tenho preconceito, mas se filho meu for gay, na minha casa ele não fica”
Mas ei, pessoa de bem, você mata mais que muita doença por aí

"Se você se declarar homossexual, a possibilidade de doar sangue é quase nula"

E essa “gente de bem” fala: “Deus me livre de receber sangue de um viado”, “ele é cheio de doenças, deve ter AIDS”
Mas ei, pessoa de bem, você sabia que nos últimos anos a incidência de doenças sexualmente transmissíveis tem crescido na população heterossexual e não na homossexual

"Uma estatística aponta que 90% das travestis e transexuais abandonam a escola"

E essa “gente de bem” fala: “ainda bem”, “imagina se minha filha tem que conviver com esse tipo de gente”
Mas ei, pessoa de bem, não é você que diz que ama ao próximo? não é você que é a favor da educação?

"Mulher é morta na frente de namorada após ofensas homofóbicas"

E essa “gente de bem” fala: “Mas elas querem ser sapatão na frente de todo mundo, vê se pode?”
Mas, ei, pessoa de bem, isso pode sim, pode muito! por acaso o amor alheio te ofende?

Porque você me ignora?


- Aline Nobre

13 de setembro de 2017

na cara

se eu te amar
você vai saber

eu não escondo amor
porque amor foi feito pra se expandir
pra crescer

eu não disfarço apreço
e nem faço questão

se eu gosto
eu falo
eu sorrio
eu exalo
toda essa afeição

amando bem, que mal tem?


Aline Nobre, na cara.


Todos vocês mulheres

Há quem diga que eu gosto de problematizar tudo, já eu fico super orgulhosa de mim cada vez que escuto isso, porque sei que estou de alguma forma contribuindo para o crescimento crítico meu e das outras pessoas. Pois bem, lá vai mas uma problematização.
Participei recentemente de uma formatura de graduação lindíssima, onde a turma que se formava era composta somente de mulheres. Que avanço, não?! Senti no peito um profundo orgulho em saber e comprovar o quanto as mulheres vêm avançando no mundo, nas profissões, no mercado de trabalho e ver que a cada dia mais mulheres se antecipam e se tornam protagonistas das suas vidas. Pois bem, foi um momento maravilhoso, mas fiquei muito inquieta em vários momentos do evento por um motivo: a falta da flexão para o gênero feminino nas falas.
Desde o início do evento, tanto as falas do cerimonialista, quanto os discursos e falas gerais pareciam esquecer que a turma era formada somente por mulheres. Falavam “os formandos”, “todos vocês”, “cada um” e por aí vai. A cada vez que se referiam a turma no masculino eu falava pra minha mãe, que estava do meu lado “MAS SÓ HÁ MULHERES NESSA TURMA!”. Vez ou outra, alguém acertava e/ou se corrigia ao perceberem esse detalhe, mas no geral, mais se falou delas no masculino do que no feminino.
Pode ser que alguém ache isso uma besteira, e ache que eu me incomodo demais e vejo machismo em tudo. Mas é isso mesmo, eu me incomodo, e sim, há machismo em tudo. Já outras pessoas dizem que “o mundo tá ficando chato” a cada vez que chamamos atenção para essas questões. Se para o mundo ser legal ele precisa ser preconceituoso e injusto, eu prefiro mesmo que o mundo seja chato e livre de preconceitos e injustiças.
Eu penso que, sim, nós mulheres já conquistamos muito, mas que ainda há muito o que se conquistar, e é através dessas pequenas coisas que a gente vai conseguindo construir um mundo com mais equidade de gênero, mais respeito e que realmente pense sobre causas como essa de maneira consciente.
A flexão de gênero é algo de extrema importância porque é através dela que, nós mulheres, nos fazemos visíveis nas falas, na escrita e nas histórias contadas. Muita gente deixa de usar por considerar que o texto fica “pesado” ou “cansativo”, e sim, eu concordo, mas enquanto não existir outro meio de nos fazermos existir e sermos vistas, vamos ter que nos utilizar desta maneira. É o que temos.
Fatos como esse da formatura acontecem o tempo todo, e a construção do vocabulário tem grande culpa nisso. O vocabulário é feito por uma sociedade, e quando a sociedade é racista, machista, misógina e cheia de outros preconceitos, é de se esperar que o vocabulário carregue também essas características. Mas assim como estamos conseguindo avançar nas diversas áreas da sociedade e do conhecimento, é possível também avançar e modificar essas construções culturais e conceituais existentes.
Lembremos que o português é uma língua viva e que está em constante transformação, e que se for preciso reforma-la, façamos esta reforma.
E é por isso que é importante a existência de gente pra problematizar o que não tá certo, pois só assim a discussão é colocada em pauta e tem a oportunidade de amadurecer e gerar frutos positivos através da transformação social e cultural. Que fiquemos atentas e atentos. O mundo pode melhorar sim, e a transformação se faz primeiro na consciência de cada um e de cada uma.

Por Aline Nobre

30 de agosto de 2017

diariamente

quase todo dia
eu vejo o dia se transformar em noite
por uma janela
com vista pro infinito

quase todo dia
eu gasto tempo para olhar o pôr-do-sol
e fico hipnotizada
com essa doce partida

quase todo dia eu estou viva.

Aline Nobre

2 de agosto de 2017

Agosto

Que agosto
tenha gosto de felicidade
deixe marcas de saudades
seja repleto de amor

Que leve as dores embora
e as tristezas de outrora
que a alegria seja agora
E que o tempo caminhe
ao nosso favor.

Aline Nobre, Dos versos que surgem no começo de cada mês.

“Nos falamos, mas foi meio em silêncio”

Sabem aqueles relacionamentos complicados que perpassam vários anos sem se definirem do que se tratam? Pois é, conheço vários desses. Normalmente se perderam na linha tênue entre romance e amizade, e é difícil sair de cima dessa linha, para qualquer que seja o lado.

Estava conversando com uma amiga que vive um relacionamento assim e no meio da conversa sobre essa relação, ela disse a seguinte frase: “Nos falamos, mas foi meio em silêncio”. Que frase forte! Se falaram meio em silêncio. Quantas vezes já passamos por isso?

Às vezes silenciamos para evitar desgaste, porque em algumas relações a gente “se desentende no instante em que fala”, como Belchior fala em uma canção. A gente fala meio em silêncio com nossa família o tempo todo, é na hora do almoço, no aniversário dos avós ou na ceia de natal. Esses silêncios que pronunciamos a todo momento, apesar de evitarem discussões, na maioria das vezes são prejudiciais, porque também evitam a convivência sincera.

Outras vezes silenciamos porque não existem palavras que possam suprir a intensidade do que se viveu. São silêncios escassos de palavras, mas repletos de sentimentos. Silêncios que acompanham olhares, toques, confiança e coração acelerado. Esses, sim, valem totalmente à pena, porque palavras provavelmente não acrescentariam nada.

Ainda existem os silêncios que significam presença. Esse silêncio é dito na maioria das vezes para amigos e amigas que só precisam de presença sincera, sem necessidade de palavras. Esses silêncios costumam ser o ápice de relações de amizade. São declarações de amor ditas no abraço.

Já vivi diversos outros silêncios também; silêncios de finais, silêncios de começos, silêncios de desconforto e silêncios de prazer. Todos esses silêncios vividos não podem ser registrados em cadernos, álbuns, melodias ou gestos, podem somente ser lembrados como pequenos instantes em que a vida esqueceu o roteiro. E a gente? A gente ficou sem fala.

Um silêncio vale mais que mil palavras.


Por Aline Nobre

23 de julho de 2017

Revelo

Eu me revelo
toda vez que abro a boca
toda vez que voo solta
toda vez que me permito.

Eu me revelo
toda vez que eu sorrio
toda vez que renuncio
toda vez que me recito.

Eu me revelo
toda vez que te encaro
toda vez que te abraço
toda vez que te avisto.

Eu me revelo
toda vez que alguém me afronta
toda vez que fico tonta
toda vez que me revisto.

Eu me revelo
em cada sentido meu

No tato
na visão
no olfato
na audição

mas principalmente
no paladar;
que me revela em cada coisa
que eu desejo provar.

Aline Nobre

3 de julho de 2017

O Apagão

A queda de energia é bem comum em cidades do interior, principalmente, nas menores. Lembro que, na minha infância, quando faltava luz, era uma alegria só, já tínhamos o protocolo a seguir nessas ocasiões: todas as crianças da rua logo corriam para um prédio da igreja que era o ponto de encontro, se fazia uma grande ciranda e era só alegria. Os adultos ficavam na calçada com suas velas, lanternas e faróis ligados, enquanto as crianças só precisavam da luz da lua – coincidentemente, sempre era noite de lua – para clareá-las enquanto a energia não voltava.
Ontem, aconteceu um episódio desses na minha cidade. Não haviam mais crianças brincando na minha rua, - uma boa reflexão que também pode ser feita - mas, felizmente, não se perdeu o encanto que apagões causam no interior.
Lembrei do verso de um poema que eu mesma escrevi no último apagão que tinha acontecido: “o apagão acendeu o céu”, só que, dessa vez, o apagão foi muito mais significativo pra mim, pois ele não somente acendeu o céu; ele proporcionou encontros e convivências sinceras entre pessoas.
O apagão acendeu o céu de tal forma, que parecia um show de astros no céu. Foi uma linda noite de lua crescente, havia um pequeno halo na lua que a tornou mais especial ainda. Pude identificar a constelação de escorpião facilmente, antes do céu ficar nublado. Vi uma estrela cadente e também dois aviões a sobrevoar. Que noite!
Mas como havia falado, acender o céu não foi a coisa mais extraordinária da noite, mas sim a convivência. A falta de TV e Internet acenderam a comunicação. Quem diria? A comunicação sendo feita pela ausência dos meios de comunicação.
Na hora que começou o apagão, eu não estava em casa, mas logo que cheguei, avistei todo mundo na calçada batendo papo, como nos velhos tempos. Depois jantamos todos à luz de velas, uma diversão!
Quando acabei de jantar, passei horas no quintal com minha sobrinha ouvindo música com o restante da bateria que sobrou do celular. Observamos o céu, falamos de astros, de sonhos, de vida. Fiquei impressionada o quão inteligente pode ser uma menina de 10 anos. Ganhei a noite!
Não senti falta da energia, da internet, da TV nem de nada. Foi um escape pra mim e acredito que pra muita gente também. Foi uma oportunidade de sair do quarto e entrar na vida.
Espero que não precisemos mais de apagões pra viver noites assim. Que vivamos apagões à luz de postes também.

Aline Nobre

25 de junho de 2017

Sobre amar

Se você se enxergasse como eu te enxergo
Você nunca, jamais, pensaria coisas tristes sobre si

Se você se amasse como eu te amo
Você nunca, jamais, se deixaria em segundo plano

Se você se admirasse como eu te admiro
Você nunca, jamais, subestimaria a si mesma

Se você se respeitasse como eu te respeito
Você nunca, jamais, deixaria ninguém te desvalorizar

Se você se apoiasse como eu te apoio
Você nunca, jamais, precisaria da aprovação de ninguém.

Se você sentisse tudo o que sinto por você
Você só iria se concentrar em exercer a si mesma
O tempo todo.

Aline Nobre, sobre amar.

22 de junho de 2017

Só eu.

Deus me livre de ser outra
outra que não eu mesma
Deus me livre de escolhas
escolhas que minhas não sejam

Oxalá que eu não me perca
no caminho de outros pés
Oxalá que eu tanto cresça
e não seja de mim revés

Não quero ser ninguém
além de mim.

- Aline Nobre, só eu.

16 de junho de 2017

“Ninguém é obrigado a nada”

Ficar na vida de alguém quando as coisas não vão bem é algo importante? É. É algo bonito? É. É algo admirável? É. É algo obrigatório? Não, não é, e temos que começar a pensar sobre isso.
A gente escuta e reproduz muito aquela frase de Antoine de Saint-Exupéry: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” e acaba interpretando responsabilidade emocional de forma equivocada. A gente confunde responsabilidade emocional com permanência forçada ou pior, a gente acha que o outro deve curar e lidar com as nossas frustrações, causadas por nós mesmos e pela expectativa que criamos sozinhos acerca do outro e do mundo.
Tenho lido vários textões e artigos de opinião falando sobre isso e a maioria deles tem teor de acusação às pessoas que decidem ir embora da vida de outras, mas o que a gente acaba esquecendo é que na verdade ninguém é brigado a nada, e a gente não pode fazer nada em relação a isso. Não podemos obrigar ninguém a permanecer. De que vale mesmo presença insossa?
Não me interpretem mal, não estou apoiando pessoas que somem da vida de outras “sem ver-nem-pra quê” sem deixar rastros, não concordo com isso, mas apoio o direito de ir e vir de cada um. Acontece que mesmo com os “adeuses” devidamente dados e com as cartas sobre a mesa colocadas, grande parte das pessoas continuam insistindo que os outros têm essa incumbência de lidar com as suas frustrações.
É bonito quando as pessoas querem permanecer e permanecem em nossas vidas apesar de nossas falhas e defeitos? É lindo, e a beleza da coisa é exatamente essa; a pessoa quis ficar. Se a pessoa foi embora, é uma escolha que coube a ela, e temos que aprender a respeitar escolhas diferentes das nossas.
Pode parecer egoísta e um tanto insensível, mas a frase “ninguém é obrigado a nada” tem me feito muito bem. Tenho sofrido menos, julgado menos, esperado menos, criado menos expectativas e me frustrado bem menos depois que comecei a entendê-la e aceitá-la.
Pode ser que você concorde com tudo que eu disse ou pode ser que você me ache uma completa ridícula de pensar dessa forma. Se for a primeira opção, que bom que não sou só eu que penso assim, mas se for a segunda opção, tudo bem, você tem todo o direito de achar isso, afinal ninguém é obrigado a nada.

Aline Nobre (16/06/2017)

3 de junho de 2017

Pessoas Espirituosas

Ando bem crédula na humanidade ultimamente. Todo dia alguém tem despertado minha sensibilidade de forma muito positiva, seja através de um ato, de uma fala, de uma música, de um abraço ou simplesmente de um olhar.
Ontem mesmo aconteceu uma dessas coisas que me fez pensar como através das pequenas coisas você pode ser uma pessoa muito espirituosa. Eu estava em frente a uma faculdade e precisava de uma informação, então perguntei para um rapaz que estava em frente ao prédio e ele se lamentou por não saber informar. Eu agradeci e ia seguir caminhando, até que ele falou: “Meu irmão com certeza sabe. Quer que eu ligue pra ele?”. Eu sorri e aceitei. Ele ligou uma vez, duas vezes, três vezes e o irmão não atendeu. “Espera só um pouquinho, vou ligar pra outra pessoa”. Ele então ligou pra essa outra pessoa que atendeu e me deu todas as informações que eu precisava. Eu agradeci de novo e então segui meu caminho.
Fui caminhando e pensando no ato daquele rapaz, que não tinha obrigação nenhuma de fazer todo aquele esforço pra ajudar uma pessoa que ele nem mesmo conhecia. Ele me ajudou com a disposição de quem ajuda um amigo. Fiquei sorrindo feliz e com a sensação que existe muita gente boa no mundo, que se importa com as outras pessoas, que toma como missão pessoal ajudar ao próximo e a próxima. São pessoas espirituosas.
Quando falo de pessoas espirituosas, não estou falando de religiosidade ou fé, falo dessa bondade que há dentro de algumas pessoas, que muitas vezes não tem religião nenhuma. É bondade pura.
São essas pessoas que são presença divina no mundo, mesmo que elas não acreditem nisso. São essas pessoas que são humanas. Humanas no melhor sentido que a palavra pode carregar.
Provavelmente aquele rapaz nem imagina o efeito da sua ação sobre mim. O quanto ele foi sinal do bem pra mim. Ele nem imagina o quanto ele deve fazer bem pra cada pessoa que ele se dispõe a ser humano pra elas. Espero que alguém já o tenha dito. Ele merece saber.
Acredito que a espiritualidade está nisso; alcançar a humanidade na sua melhor forma. Ser espirituoso é mais sobre ser humano do que sobre ser divino. Como já disse Viviane Mosé “Santo é um espírito capaz de operar o milagre sobre si mesmo”.


Aline Nobre (03/06/2017)

1 de junho de 2017

Morar no interior

Em uma dessas conversas sobre futuro com uma amiga, começamos a falar da possibilidade de mudar de cidade, das oportunidades que algumas capitais poderão nos proporcionar e da nossa dificuldade de sair do modelo de vida que o interior nos proporciona. No meio dessa conversa me lembrei de episódio que vivi há algum tempo.
Eram mais ou menos 14:00hrs de um domingo. Eu estava recebendo a visita de um amigo em casa e logo após o almoço ele iria embora. Quando fui deixa-lo na porta, avistamos uma menina de uns 2 anos de idade andando sozinha na rua. Eu tinha a impressão de conhece-la, mas não tinha certeza se era mesmo a criança que eu imaginava. Corri para alcança-la e tentei conversar com ela. Perguntei pra onde ela iria e ela começou uma tentativa de explicação na linguagem de crianças de 2 anos que eu só entendi a palavra no final da frase. “Vovó”.
Ela estava afoita, queria chegar logo ao seu destino, não tinha tempo para bater um papo com pessoas inconvenientes como eu que lhe paravam na rua. Como ela não aceitou parar, eu perguntei se poderia acompanha-la até a casa de sua avó. Ela aceitou, pegou na minha mão e continuamos a caminhar.
Eu sinceramente não sabia o que fazer, mas não poderia deixar aquela menininha sozinha e nem podia força-la a ficar comigo. A opção que tive foi acompanha-la. Em menos que um quarteirão de caminhada, haviam duas mulheres na calçada. Uma delas disse: “Olá, Cecília! Pra onde você está indo com Aline?”. Ufa! Alguém que sabia de fato quem era aquela menininha.
Mais uma vez Cecília foi interrompida por uma pessoa inconveniente. Ela não deu muita bola pra mulher, tentou se explicar novamente e me puxou pra continuar sua aventura. Eu então expliquei rapidamente a situação e elas então ligaram para a mãe de Cecília. A menina estava sem paciência, queria chegar em seu destino, mas foi atrapalhada duas vezes.
Em menos de 5 minutos sua mãe já estava conosco. Outra adulta para estragar os planos daquela menina.  A mãe dela explicou a situação, disse que a tinha deixado sobre os cuidados do pai, que dormiu enquanto deveria estar de olho nela, e abriu espaço para essa aventura da menina. Cecília voltou pra casa insatisfeita.

Essa história poderia abrir reflexões sobre diversos temas, poderia terminar falando sobre tragédias que poderiam acontecer, sobre o descuido da maioria dos pais, sobre travessuras que uma criança pode aprontar ou sobre domingos inesperados, mas a reflexão que não consigo parar de pensar é: Como é bom morar no interior.

Aline Nobre 

29 de maio de 2017

Antigos Estranhos

Ontem estava desperdiçando tempo no Facebook quando recebo uma notificação me convidando para curtir uma página de textos autorais. Logo de cara havia uma crônica que falava sobre o tempo, então li, gostei e vi que é de autoria de uma mulher que conheço. Nós frequentamos alguns lugares em comum, temos amigas em comum, temos ideologias parecidas, mas nunca havíamos entrado em uma conversa de verdade, nunca passamos da linha dos bons modos e cumprimentos e eu então por um impulso passei dessa linha e enviei uma mensagem: “Adorei tua crônica naquela página do Facebook” e então começamos a conversar. Falamos de crônicas, poemas e vida. Trocamos crônicas, poemas e vida. E foi ótimo.
Comecei a pensar o quanto o cotidiano muitas vezes nos impede de conhecer gente nova e de buscar novas experiências. O tempo, do qual ela falava em sua crônica, sempre parece pouco pra o tudo que já temos e nos limitamos a ficar no mundo que já conhecemos, porque é mais seguro. Já temos atividades programadas para o dia todo.
Ao mesmo tempo que nos fechamos pra essas novas experiências precisamos reconhecer que tudo que conhecemos um dia nos foi algo estranho. Você nem sempre conheceu a faculdade. Você nem sempre esteve nesse emprego. Sua melhor amiga nem sempre foi sua melhor amiga. Você conheceu seu namorado ano passado. Você nem tinha essas ideias uns anos atrás. Você nem mesmo morava na mesma casa. Tudo foi estranho em algum momento.
Nossa vida é feita de antigos estranhos.
Quando nos abrimos, mesmo que seja um pouquinho, pra qualquer coisa (ou pessoa) que ainda não conhecemos, nós abrimos espaço pra um futuro-antigo-estranho que pode vir a ser um presente em breve. Tenho buscado fazer essa experiência há algum tempo e tem me proporcionado muitas surpresas boas, eu recomendo.
Você pode começar indo ao cinema sozinha, indo a um show de algum artista local que você não conhece, fazer algum curso que você nunca pensou em fazer, sentar na praça ou simplesmente dar um sorriso pra quem senta do seu lado no ônibus. Olhe para os lados e descubra o quanto a vida pode te surpreender.
Você pode ser o antigo estranho na vida dos outros também.


Aline Nobre (29/05/2017)

21 de maio de 2017

Se eu não fosse eu.

Se eu não fosse eu
eu me chamaria de louca
riria de mim
e me perguntaria:
"é normal ser assim?"

Se eu não fosse eu
eu me aproximaria
por pura curiosidade
e me perguntaria:
"você é assim de verdade?"

Se eu não fosse eu
perguntaria aos meus amigos
(que provavelmente não saberiam responder):
"o que foi que ela tomou
pra nesse estado permanecer?"

Se eu não fosse eu
ou eu teria inveja de mim
ou sentiria pena
"como viver assim tão contente
existindo tantos problemas?"

Aline Nobre, tentando pensar sobre mim fora de mim.

26 de abril de 2017

O Tempo.

o tempo me engole
todo dia
todo mês
e todo ano
sou consumida.

o tempo me esmaga
todo dia
todo mês
e todo ano
sou diminuída.

o tempo de prepara
todo dia
todo mês
e todo ano
sou mais sagaz

o tempo me revela
todo dia
todo mês
e todo ano
sou mais eu.

Aline, quando chego perto de mim.

27 de março de 2017

Ela Sabe

Ela sabe o poder que tem

o andar dela esbanja que ela sabe
a voz dela fala que ela sabe
o toque dela prova que ela sabe
o olhar dela mostra que ela sabe

ela sabe quem ela é.

ela se ama.

e esse amor faz a gente querer amá-la também
esse amor faz a gente querer ser assim também
e esse amor faz a gente querer se amar também
e esse amor faz a gente querer se aproximar dela também

ela é substantivo
a própria substância dela
ela exerce seu "eu"

e eu?
eu não consigo parar de olhar pra ela.

Aline Nobre, no dia que eu fiquei hipnotizada.

22 de março de 2017

2 de março de 2017

14 de fevereiro de 2017

13 de fevereiro de 2017

Poema para Jaque

Já que me faltam palavras pra discursar sobre ti
Já que as vivências não cabem dentro de palavras
Já que o encontro de almas foi mais profundo do que o de corpos
Já que você é mais poesia do que mulher
Já que teu olhar resplandeceu o meu lugar por alguns dias
Já que já te vi mas não te conhecia
Já que as nossas energias ganharam forças na união
Já que a compreensão ganhou em nós uma nova dimensão
Já que a cumplicidade se fez viva no conversar
Já que quilometragem nenhuma pode agora nos separar
Já que até as estrelas se uniram a nós naquelas noites
Já que o abraço entre irmãs foi nossa morada por esse tempo
Já que nada desmancha nada do que foi vivido

Só te digo uma coisa;
em você o SerTão se fez vivo.
Já que tudo isso é ainda tão complexo
Acabo aqui falando;
Jaque, contigo o SerTão é fértil!

Aline, quando a afinidade grita

Mulheres que me marcaram na ANPJ

Foram sete mulheres
Que em uma semana me fizeram bem maior.

Paolla no primeiro dia me encantou de cara
vestido branco
sorriso largo
abraço apertado
"sou sua companheira de quarto"
e foi minha companheira mesmo!
com ela aprendi sobre os sonhos, sobre o amor, sobre a vida
e no fim da semana ela levou um pedaço do meu coração lá pro sul, pra Curitiba.

Jaque foi amor à terceira vista
A vi em Manaus, em Brasília e agora nas terras do Ceará
A conexão que houve entre a gente
foi mais forte do que eu podia imaginar
"que querida" que ela é
"que daora" cada papo
"não dou conta" de falar 
do quanto ela me marcou de fato.

Foi o terceiro encontro com Gizele
Depois de centenas de conversas virtuais
Nossos olhares se encontraram e se entenderam de longe
Sem precisar de muitas palavras para que houvesse diálogo
Ela é uma amiga-irmã que a vida fez a gentileza de me apresentar
Cada abraço e cada toque tinham mil confidências partilhadas
Mais que encontro de corpos, tivemos encontro de almas.

Conversei com os olhos com a Gabi
Havia acolhimento e compreensão de ambas
Foram poucas conversas-palavra e muitas conversas-olhar
Sonhamos juntas um futuro mais igual
Debatemos pensamentos semelhantes
Me senti profundamente tocada
Pelo jeito dessa menina-furacão.

Joyce já é companheira de vida e de sonhos faz um tempo
Mas não deixa nunca de me impressionar
Cada passeio lado-a-lado são momentos pra se lembrar
Menina-vento, menina-poesia
Que me encanta só de olhar
Cada palavra que sai da boca dela
Ganha um sentido mais especial
Porque ela fala com a alma
Joyce é toda sensacional.

Loide emana uma energia fora do comum
energia boa, energia do bem
Só de olhar pro seu andar
A sensação de paz me vem
E quando ela se põe a falar
a profecia vira verbo, o amor ganha um som
É o som da voz dela
Que sempre acerta o tom
o tom certo de amar.

Amanda é só amor
É a cumplicidade que ganhei da Pacatuba
É parceira de canto, parceira de encanto
Eu a ajudo e ela me ajuda
É troca de amor espontâneo 
E cada conversa é sempre especial
Ela faz de uma gota o mar
faz da brisa um vendaval
Ela transforma tudo que ver
em algo grande, nada é banal
Ela faz da vida amor
Faz do abraço casa
Amanda é uma flor
Que no meu jardim fez morada.


São sete mulheres de fibra
que me fizeram acreditar
que Deus também é mulher
através de cada olhar.

Aline, quando o ser mulher aproxima.

15 de janeiro de 2017

Perdoa o transtorno, mas eu não vou fazer reforma.

Moço, é que eu tenho esse coração que não cansa de acreditar no amor.
É que eu sofro de borboletas no estômago e carrego esse fardo.
Não é por querer que eu sou assim; é por sentir.
Ontem eu fechei a porta, mas cê sabe que meu peito é frouxo, basta dizer "tô de volta".
Me liga ou manda recado, que eu desmarco mais uma vez o cinema com as amigas,
Só não me deixa sem notícias, porque minha cabeça tem mania de inventar estórias de quem não tá por perto.
Tua saudade eu bebo, feito bebida amarga que se toma abandonada num bar de esquina,
Sozinha e calada, até pareço tá legal.
É que eu que gosto das tuas chegadas, nunca vou impedir as tuas saídas.
Você é livre e eu sou louca, louca de vontade de te perceber com a boca.

Perdoa o transtorno, mas eu não vou fazer reforma.

- Aline Nobre e Joyce Elayne

13 de janeiro de 2017

8 de janeiro de 2017

Cais

Me renovo a cada dia
a cada hora me revelo um pouco mais
me engano com quem sou e com quem fui
nunca sei onde é meu cais.

Eu vivo em alto mar
no mar de mim.

Aline Nobre, Quando quem fui, quem sou e quem serei não são a mesma.

7 de janeiro de 2017

Caixinha de Segredos



Eu vou te jogar na minha caixinha de segredos.
Nela você vai encontrar:
Frases de Frida,
filmes de Guerra,
noites de amor.

Eu vou te jogar na minha caixinha de segredos.
Nela vai ter de tudo:
Canções de Chico,
jornais antigos,
noites de dor.

Eu vou te jogar na minha caixinha de segredos.
Ela é cheia de partes de mim:
Fotos de infância,
sonhos de criança,
o cheiro do meu cobertor.

Eu vou te jogar na minha caixinha de segredos.
Você vai ver coisas que jamais mostrei:
Uns versos sem rima,
histórias com primas,
ações sem pudor.

Eu vou te jogar na minha caixinha de segredos.
Mas, por favor,
tenta não fugir.
De todas as pessoas que nela tentei jogar

eu fui a única que permaneci.

- Aline Nobre, quando aparecem pessoas que valem a pena.

Habitar

Minhas mãos inquietas
Teimam em me revelar
Revelam que sinto, que amo
Revelam esse mal (ou bem) estar

Meu olhar indiscreto
Teima em me revelar
Revela desejos, anseios
Revela minha sede de amar

Minha voz um tanto trêmula
Teima em me revelar
Revela meus medos, inseguranças
Revela fraquezas que eu luto pra mascarar

Esse meu jeito manso
Teima em me revelar
Revela traços, coisas que carrego
Revela o que eu lutei pra me tornar

O meu toque teimoso
Teima em me revelar
Revela necessidade, carinho
Revela esse jeito torto de me expressar

Minhas ideias inesperadas
Teimam em me revelar
Revelam o que sou, o que penso
Revelam minha forma de habitar

Meu silêncio incomodado
Teima em me revelar
Revela aquilo que o sentimento grita
Revela o que palavras não podem expressar

- Aline Nobre, quando o EU pesa.

Pequenos Sacrifícios

Eu desci antes do meu ponto de ônibus pra caminhar com você
Eu fingi que ia passar na padaria para te convencer
Que não foi por você que andei 6 quarteirões

Eu pedi uma coca gelada preferindo cajuína
Eu bebi mesmo doendo o dente e inflamado minha gengiva
Para você saber que eu não pedi só por você

Eu dormi com a luz apagada tendo medo do escuro
Eu rezei bem calada pedindo uma luz no fim do túnel
Pra você não saber que eu não dormi foi por você

Fui pra praia, coloquei um biquini e fiquei horas no mar
Torcendo pra não morrer afogada porque eu não sei nadar
Pra você não saber que me arrisquei só por você.

- Aline Nobre, Pequenos Sacrifícios

Se Espalha



Quando o amor fraquejar
e alegria não ter
ouve o canto dos pássaros
tenta se convencer
que a beleza da vida
nasce no amanhecer
olha pra imensidão
acredita então
há vida pra viver

Espalha esse sorriso que é pra o mundo ver
que a vida é mais bonita pertinho de você
e quando houver pranto se deixe curar
pois quem tanto te ama, ao seu lado estará.


- Aline Nobre, uma canção para Ana.